Estagiários e trainees são figuras importantes para o desenvolvimento das empresas. Longe de significarem apenas uma mão de obra barata, esses futuros arquitetos podem agregar valores significativos para os escritórios. Ideias frescas, motivação, visão inovadora e facilidade para interagir com tecnologia são alguns deles.
"Por sua proximidade com a academia, os estagiários estão extremamente conectados com novidades técnicas, de materiais e conceituais, enriquecendo o debate e as oportunidades profissionais do escritório", comenta o professor Enio Moro Júnior, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes. "Esses jovens profissionais podem evoluir dentro do escritório assumindo papéis mais importantes à medida que assimilam a cultura da empresa, com a vantagem de chegar sem vícios de outros escritórios, o que acontece quando contratamos arquitetos mais experientes", acrescenta o arquiteto Henrique Cambiaghi.
Autonomia e Responsabilidade
Os estagiários podem integrar equipes de projeto em escritórios de diferentes portes. A depender da rotina de cada empresa e do tamanho da equipe, eles podem ter mais ou menos autonomia, mas sempre apoiando os arquitetos em suas demandas diárias, como na elaboração de memoriais descritivos, preparo de planilhas e documentos, solicitação de orçamentos a fornecedores e demais atividades supervisionadas.
No Vera Zaffari Arquitetura, os três estagiários contratados participam constantemente de fóruns de debate interno e são introduzidos nas questões de gestão e posicionamento do escritório. "Aos estagiários são dadas responsabilidades que, mesmo restritas e pontuais, precisam ser assumidas e cumpridas com qualidade e dentro dos prazos para atender ao seu cliente interno, que é o arquiteto que o coordena", ilustra a titular do escritório, Vera Zaffari.
Conhecimento e Vontade
Para conquistar uma vaga de estágio, é essencial que um estudante de arquitetura tenha conhecimento técnico adequado ao percentual cursado de sua graduação. Mas, além disso, ele também deve apresentar envolvimento e responsabilidade. "É muito comum identificarmos que bons alunos nem sempre são bons estagiários e vice-versa. Percebemos que a sinergia entre o conhecimento técnico e a capacidade para resolver problemas é uma união necessária para o sucesso profissional", afirma Enio.
A definição do perfil do estagiário a ser contratado varia de acordo com a necessidade do escritório. Para trabalhos com menos complexidade, recomenda-se a contratação de alunos de início de curso (1º e 2º anos) para evitar um desencantamento mútuo. Já para trabalhos mais complexos, o ideal é recorrer a alunos que estejam nos últimos anos da graduação.
Habilidades Específicas
Cambiaghi conta que, por seu escritório trabalhar primordialmente com projetos na plataforma BIM, é fundamental que o estagiário tenha conhecimento para manipular esse programa. "Sempre que alguém procura uma vaga, recomendamos que faça um curso de Revit, porque raramente as faculdades oferecem esse tipo de conteúdo e nós só contratamos quem tem essa capacitação", diz o arquiteto.
Para ele também não podem faltar ao estagiário interesse em aprender, empenho e dedicação. "Os estagiários evoluem rápido no domínio e nas habilidades de operar o programa, mas falta conhecimento técnico de projeto, experiência profissional. Em contrapartida, os arquitetos mais experientes costumam ter dificuldade para operar este novo programa e entender que o processo de desenvolvimento de projeto mudou", revela Henrique Cambiaghi.
Choque de Gerações
Quando um jovem estudante passa a integrar a equipe de um escritório de arquitetura é natural que surjam conflitos de gerações. De modo geral, uma característica dos jovens que atualmente estão na graduação (geralmente na faixa de 20 anos de idade) é viver conectado a redes sociais e, em contrapartida, ter pouca concentração.
"Com raras exceções, são pessoas que estudam pouco e não têm o hábito de pesquisar", resume Cambiaghi.
O arquiteto cita como exemplo algo que tem vivenciado em seu escritório. "Na nossa atividade é fundamental conhecer e dominar as leis e decretos, de zoneamento e código de obras, por exemplo. Mas nunca um estagiário teve a iniciativa de levar a legislação para estudar em casa. Quando sugiro isso, eles dão risada porque entendem que isso deveria acontecer no horário de trabalho", comenta o arquiteto, para quem o conhecimento é um capital do indivíduo que pode ser utilizado por toda a vida profissional, inclusive no trabalho em outros escritórios.
Experiência Prática
Desde que devidamente monitorada pela instituição de ensino, a prática em um ambiente profissional é um dos elementos fundamentais para a formação. "Nela, o estagiário conhece as rotinas do trabalho, as dinâmicas do mercado, as complexidades das aprovações legais e outros desafios que nunca poderiam ser simulados no ambiente acadêmico", diz Enio. "Nesse ponto, a experiência norte-americana é uma das mais interessantes: lá, em muitos Estados, há a obrigatoriedade do estágio em vários campos de atuação, como mercado imobiliário, obras, projetos, tecnologias, entre outros. No Brasil, basta a experiência em um único campo profissional", compara o professor.
Para o arquiteto em formação, ter a oportunidade de estagiar em um ou mais escritórios de arquitetura ou em uma construtora auxilia na hora de decidir em qual atividade se sente mais confortável e na qual tem mais potencial de evoluir. "O estágio dá a visão real do dia a dia, permite vivenciar as dificuldades, aprender como a legislação e os projetos complementares impactam a concepção arquitetônica e como os clientes interferem e, muitas vezes, resistem a certas propostas", acrescenta Cambiaghi.
Contratação e Efetivação
Para a empresa que tem um bom estagiário em sua equipe, vale considerar a possibilidade de contratar o profissional após a conclusão do curso. "O valor investido no estagiário é inferior a um programa de treinamento profissional, ou seja, há um baixo investimento para que tenhamos, em pouco tempo, um profissional devidamente treinado e conhecedor das dinâmicas de trabalho do escritório de arquitetura", opina Enio.
Mas a efetivação nem sempre ocorre, sobretudo quando o escritório é pequeno e o mercado está em baixa. "O maior problema é que bons estagiários acabam recebendo convites quando se formam para trabalhar em condições de remuneração melhor", conta Cambiaghi, apontando que muitas construtoras tiram profissionais dos escritórios porque tendem a pagar mais.
A solução para evitar a fuga dos novos talentos passa pelo investimento na formação do profissional e na oferta de perspectivas claras de plano de carreira, incluindo projetos desafiadores. Também costuma ser valorizada pelos jovens profissionais a oferta de um pacote de benefícios atraente, que ajude a compensar um eventual salário reduzido.
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